No mundo empresarial, a busca por crescimento e inovação muitas vezes leva as empresas a explorarem novas formas de colaboração e parceria. Uma dessas formas é a joint venture, uma estratégia que permite que duas ou mais empresas unam forças para alcançar um objetivo específico, compartilhando recursos, riscos e recompensas.
A joint venture pode ser vista como um “namoro empresarial”, uma oportunidade para que as empresas testem a compatibilidade e a sinergia antes de se comprometerem com um “casamento” definitivo, como uma fusão ou aquisição. No mercado brasileiro, essa modalidade de parceria estratégica tem se mostrado cada vez mais relevante, especialmente em setores que exigem alto investimento ou conhecimento especializado.
Um exemplo emblemático e de fácil compreensão é a BRF, formada pela joint venture entre Sadia e Perdigão em 2009. O que começou como uma parceria estratégica para enfrentar a crise financeira global acabou evoluindo para uma fusão completa, criando uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Esta joint venture permitiu que duas concorrentes históricas combinassem suas forças em logística, distribuição e presença internacional, resultando em significativa redução de custos e ampliação de mercado. Hoje, a BRF está presente em mais de 150 países e emprega mais de 100 mil colaboradores.
No setor de telecomunicações, a Vivo nasceu como uma joint venture entre a portuguesa Portugal Telecom e a espanhola Telefónica em 2003, combinando suas operações de telefonia móvel no Brasil. Esta parceria permitiu ganhos de escala significativos e acelerou a expansão da cobertura de serviços móveis no país. Posteriormente, a Telefónica adquiriu a participação da Portugal Telecom, transformando o que começou como um “namoro” em um “casamento” definitivo.
Para que uma joint venture seja bem-sucedida, alguns pontos cruciais precisam ser cuidadosamente considerados:
Definição clara de objetivos e expectativas: O acordo deve especificar precisamente o que cada parte espera alcançar com a parceria. A Ambev, resultado da união entre Brahma e Antarctica que posteriormente se uniu à belga Interbrew formando a AB InBev, é um exemplo de como objetivos bem definidos (consolidação no mercado nacional e expansão internacional) podem levar ao sucesso.
Estrutura jurídica adequada: Dependendo dos objetivos, a joint venture pode ser contratual (sem criação de nova empresa) ou societária (com criação de nova entidade). A Braskem, joint venture entre Odebrecht e Petrobras no setor petroquímico, optou pela criação de uma nova empresa, o que facilitou a captação de recursos e a gestão independente.
Governança corporativa robusta: Mecanismos claros de tomada de decisão e resolução de conflitos são essenciais. A GPA (Grupo Pão de Açúcar), que teve uma joint venture com o grupo francês Casino, estabeleceu estruturas de governança que permitiram a coexistência de diferentes culturas empresariais.
Proteção de propriedade intelectual: Definir claramente como serão tratados os conhecimentos e tecnologias aportados por cada parte e aqueles desenvolvidos durante a parceria. A joint venture entre Embraer e Boeing para aviação comercial (que acabou não se concretizando) tinha como um dos principais pontos de negociação justamente a proteção da tecnologia brasileira.
Cláusulas de saída: Prever mecanismos para dissolução da parceria ou para a compra da participação de um dos sócios é fundamental. A joint venture entre Vale e BHP Billiton na Samarco demonstrou a importância dessas cláusulas quando enfrentaram a crise do rompimento da barragem em Mariana.
Alinhamento cultural: Diferenças na cultura organizacional podem comprometer o sucesso da parceria. A joint venture entre Natura e Avon, que evoluiu para aquisição completa, envolveu um cuidadoso processo de integração cultural entre empresas com filosofias distintas, mas valores compatíveis.
Os riscos de uma joint venture não podem ser subestimados. Conflitos de interesse podem surgir quando os objetivos das empresas parceiras divergem ao longo do tempo. O vazamento de informações estratégicas é outro risco significativo, especialmente quando a parceria envolve concorrentes em determinados segmentos. A dependência excessiva do parceiro pode criar vulnerabilidades, e dificuldades na dissolução da parceria podem resultar em litígios prolongados e custosos.
No entanto, quando bem estruturadas, as joint ventures oferecem uma oportunidade valiosa para as empresas expandirem seus horizontes com riscos controlados. A joint venture entre Magazine Luiza e Netshoes, que posteriormente resultou na aquisição da Netshoes, permitiu que o Magazine Luiza testasse a compatibilidade operacional antes de fazer um investimento completo, exemplificando perfeitamente o conceito de “namoro antes do casamento”.
No atual cenário de transformação digital, novas joint ventures estão surgindo entre empresas tradicionais e startups tecnológicas. O Banco Inter e a Stone criaram uma joint venture para oferecer soluções de crédito, combinando a base de clientes do banco digital com a expertise em análise de crédito da adquirente de pagamentos. Esta tendência demonstra como as joint ventures continuam sendo uma estratégia relevante para navegar em ambientes de negócios cada vez mais complexos e dinâmicos.
Em suma, a joint venture representa uma estratégia versátil e poderosa no arsenal das empresas brasileiras que buscam crescimento, inovação e competitividade. Como em qualquer relacionamento, o sucesso depende de comunicação clara, respeito mútuo, objetivos compartilhados e, acima de tudo, uma cuidadosa avaliação da compatibilidade antes de dar o próximo passo rumo a um compromisso mais profundo e duradouro.
“Antes de ‘namorar’ outra empresa, consulte-nos para garantir que essa relação comece com o pé direito e termine (se necessário) sem traumas!”